Carioca que sou, gosto muito de minha cidade. Meu carinho por ela, todavia, não me impede de ver muitos problemas na Cidade Maravilhosa. Esses problemas não se devem exclusivamente à má gestão da cidade ao logo dos anos. Gostamos de responsabilizar o Poder Público por tudo. Realmente, tem grande culpa. Mas, nós cariocas, de um modo geral, somos maus cidadãos. Somos simpáticos, sorridentes, mas muito mal-educados.
Aquarela de Jean-Baptiste Debret retratando homem urinando numa rua do Rio nos idos do século XIX. |
Por ocasião dos 450 anos da fundação Cidade, comecei a ler livros sobre nossa História e dentre eles o interessante O Rio de Janeiro Imperial de Adolfo Morales de los Rios Filho. No prefácio, o diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva faz uma descrição triste, mas verdadeira do Rio de ontem e do Rio de hoje:
"...[as enchentes e suas consequências] eram agravadas pelo lixo jogado nas ruas. Aos visitantes estrangeiros causava espanto o verem que se despejavam das janelas imundícies nas calçadas, e se abandonavam coisas velhas e quebradas nos terrenos baldios, e se jogavam ou deixavam cair no chão a casca e os caroços da fruta que se comia, um lenço puído ou papel que embrulhara uma prenda. Era assim no século XVII. E no XVIII. E no XIX. E neste século XX, de que vivemos os últimos meses sem encontrar remédio para esta e outras mazelas. Como a da barulheira de alguns poucos a desrespeitar o sossego da maioria. O falar aos gritos. As batucadas. Os foguetórios" [1]
Quem pode dizer que nesses primeiros 15 anos do século XXI é diferente?
No século XIX, o caricaturista Henrique Fleiuss registrou a repulsa de transeuntes ao lixo e ao mau cheio das ruas |
Sim, o Poder Público tem que agir com maior inteligência e eficácia. Porém, temos que nos conscientizar nossa responsabilidade como indivíduos para tirar o adjetivo maravilhosa do papel e colocá-lo na nossa vivência como cidadãos do Rio.
Nem as praias, o grande atrativo da Cidade, escapam ao mau costume carioca de sujar tudo por onde passa. Acima, a praia do Leblon. |
Nota:
[1] FILHO, Adolfo Morales de los Rios. O Rio de Janeiro Imperial. Prefácio de Alberto da Costa e Silva. 2ª ed. Topbooks, Rio de Janeiro, 2000, pp.18,19.
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